
Trilobitas

Introdução
Os trilobitas foram artrópodes marinhos que habitaram os oceanos da Terra por cerca de 270 milhões de anos, do Cambriano Inicial ao final do Permiano. Seu nome vem da divisão do corpo em três lobos longitudinais (tri-lobado), característica que os torna facilmente reconhecíveis nos registros fósseis. Com mais de 22 mil espécies descritas, os trilobitas se destacam como um dos grupos fósseis mais estudados e importantes para a paleontologia.
Origem e Evolução
Os primeiros trilobitas surgiram há aproximadamente 521 milhões de anos, durante o início do Cambriano. Suas origens ainda são debatidas, mas os registros fósseis mais antigos apontam para formas primitivas como as do grupo Redlichiida, que podem representar os ancestrais comuns das ordens subsequentes.
Durante o Cambriano e Ordoviciano, os trilobitas passaram por uma impressionante radiação evolutiva, diversificando-se em inúmeras formas e ocupando variados nichos ecológicos: desde predadores e detritívoros até filtradores e, possivelmente, simbiontes. Alguns apresentavam espinhos proeminentes, olhos compostos complexos e sofisticadas estruturas corporais que os protegiam contra predadores.
Diversificação e Extinções
Os trilobitas atingiram o auge de sua diversidade no Ordoviciano, quando suas formas e tamanhos variavam amplamente. No entanto, sua trajetória foi marcada por diversas extinções em massa. Após o Ordoviciano, sua diversidade começou a declinar, especialmente no Devoniano, onde eventos como o Evento Kellwasser e o Evento Hangenberg reduziram drasticamente sua variedade.
No Carbonífero e Permiano, apenas a ordem Proetida persistia, composta por formas menores e menos diversas. Essa linhagem resistiu até a grande extinção do fim do Permiano, há cerca de 252 milhões de anos, evento que eliminou os últimos trilobitas e mais de 90% da vida marinha.
Fósseis e Importância Científica
Graças ao seu exoesqueleto mineralizado, composto de calcita, os trilobitas deixaram uma vasta e bem preservada coleção de fósseis. Esses fósseis são usados como importantes índices estratigráficos, ajudando a datar camadas rochosas e compreender a evolução da vida marinha ao longo do tempo.
Além dos esqueletos, trilobitas deixaram também icnofósseis: marcas de movimentação no fundo marinho, como as trilhas conhecidas como Cruziana (alimentação), Rusophycus (descanso) e Diplichnites (caminhada).
Morfologia
O corpo de um trilobita é dividido em três regiões principais (ou tagmas):
Cefalon (cabeça): onde estão localizados os olhos, o glabela (região central), a boca e estruturas de alimentação como o hipostoma;
Tórax: composto por vários segmentos articulados que permitiam flexibilidade e enrolamento do corpo como defesa;
Pigídio (cauda): uma porção posterior que podia ser formada por segmentos fundidos.
Além disso, o corpo era dividido longitudinalmente em três lobos: um lobo central (axial) e dois laterais (pleurais), o que deu origem ao nome do grupo. Trilobitas apresentavam uma grande diversidade nos olhos compostos, na forma do glabela, número de segmentos do tórax e desenvolvimento de espinhos ou ornamentações. Durante a muda, o exoesqueleto se separava por linhas naturais chamadas suturas faciais, que variavam entre os grupos e são importantes para a classificação taxonômica.
Os trilobitas são classificados em 10 ordens principais:

Agnostida - pequenos, de difícil classificação, alguns provavelmente não trilobitas

Asaphida – formas amplamente distribuídas no Ordoviciano

Corynexochida – inclui formas espinhosas e ornamentadas

Harpetida – com cefalon largo e bordas amplas

Redlichiida – formas primitivas do Cambriano

Lichida – geralmente espinhosos e robustos

Odontopleurida - geralmente espinhosos e robustos

Phacopida – trilobitas de olhos complexos e enrolamento eficiente

Proetida – os últimos sobreviventes do grupo

Ptychopariida – grupo diverso com representantes ao longo de quase todo o Paleozoico
Referências:
- - B. S., Lieberman (2002), "Phylogenetic analysis of some basal early Cambrian trilobites, the biogeographic origins of the eutrilobita, and the timing of the Cambrian radiation", Journal of Paleontology, 76 (4) (4 ed.): 692–708, doi:10.1666/0022-3360(2002)076<0692:PAOSBE>2.0.CO;2.
- - Clarkson, E. N. K. (1998), Invertebrate Paleontology and Evolution (4th ed.), Oxford: Wiley/Blackwell Science, p. 452, ISBN 978-0-632-05238-7.
- - Fortey, R. A.; Owens, R. M. (1997), "Evolutionary History", in Kaesler, R. L. (ed.), Treatise on Invertebrate Paleontology, Part O, Arthropoda 1, Trilobita, revised. Volume 1: Introduction, Order Agnostida, Order Redlichiida, Boulder, CO & Lawrence, KS: The Geological Society of America, Inc. & The University of Kansas, pp. 249–287, ISBN 978-0-8137-3115-5.
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