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Tartaruga Gigante de Aldabra
Tartaruga Gigante de Aldabra - AVPH

    A Tartaruga Gigante de Aldabra é a 2ª maior espécie de tartaruga terrestre do mundo e habitam as 3 ilhas do Atol de Aldabra. O gênero Aldabrachelys, ao qual elas pertencem, compreende 4 subespécies, sendo que 3 delas se encontram extintas, restando apenas 3 atualmente, onde duas delas já foram extintas na natureza e graças a um projeto que buscou por Tartarugas em cativeiro pelo mundo e as juntou em uma reserva para reprodução e recuperação dessas espécies.
   As Tartaruga Gigante de Aldabra tiveram "sorte" e sobreviveram bem durante a época de matanças por parte dos marinheiros e seus "animais" invasores, pois diversas outras espécies de tartarugas gigantes do oceano indico, suas parentes próximas, não sobreviveram, como as Tartarugas Gigantes de Rodrigues, Tartarugas Gigantes das ilhas Reunião, Tartarugas Gigantes de Maurícius e as Tartarugas Gigantes de Madagascar. Neste gênero apenas a Tartaruga Gigante de Aldabra (Aldabrachelys gigantea) possuí uma grande população e está fora do risco de extinção, possuindo inclusive uma população maior que a das Tartarugas Gigantes de Galápagos.

   A classificação correta dessa espécie gerou diversas controvérsias durante os séculos de descoberta da mesma. Já foi identificada como Testudo elephantina por Duméril e Bibron em 1835, Dipsochelys elephantina, em 1982 foi classificada por Bour como Dipsochelys gigantea e Aldabrachelys gigantea, em 1979 foi nomeada Geochelone gigantea por Arnold, em 1982 foi nomeada como Dipsochelys dussumieri (cujo nome tem origem devido ao modo de beber água que esta espécie possuí. Possuem um septo nasal cartilaginoso, que permite a elas beber água pelo nariz, sendo esta uma adaptação as ilhas, pois a água tende a formar pequenas poças nos corais, onde seria impossível beber com a boca por serem pouco profundas) e finalmente em 2014 voltou a ser reconhecida como Aldabrachelys gigantea, nomenclatura que é a mais aceita no meio científico atual.

   O Atol de Aldabra pertence ao Arquipélago de Seychelles está localizado no Oceano Indico, há 400 km ao norte da ilha de Madagascar e 600 km ao leste da costa da Tanzânia na África, a 1150 km de Victoria, capital de Seychelles na ilha Mahe. O Atol de Aldabra tem 35,5 km de comprimento, 14,5 km de largura e uma área de 155 km2. Em Aldabra existem 152000 tartarugas gigantes, o que o torna um verdadeiro "Paraíso das Tartarugas" e é considera refugio da vida selvagem e Patrimônio mundial pela UNESCO. A temperatura máxima na ilha ocorre em dezembro (31°C) e a mínima ocorre em Agosto (22°C). O Atol possuí uma enorme lagoa em seu interior que inundada duas vezes por dia pelas marés, que proporcionam uma grande diversidade de vida marinha. Aldabra é composta por 3 ilhas e em sua lagoa existem também algumas ilhas pequenas. Cerca de 90% da população da espécie habita a ilha Grande-Terre, que é a ilha maior, cerca de 7% habita Malabar e 3% habita Picard. Existem também exemplares que habitam nas ilhas de Albufera. Essa espécie foi introduzida nas ilha des Maurício, Reunião, Changuu e em outras ilhas das Seychelles.


   Estas tartarugas gostam de áreas de alagadas, buscando as partes rasas de mangues da ilha para se banhar regularmente, porém para se alimentar preferem as áreas abertas, semelhantes às savanas, onde encontram seus alimentos preferidos compostos de vegetais rasteiros.

   A cabeça dessas tartarugas possuí uma forma arredondada e coloração cinza, a carapaça apresenta também cor cinza, porém mais escuro que a cabeça e os membros, nos jovens é facilmente visualizável os anéis de crescimento nos escudos da carapaça, sendo normalmente dois por ano, porém a medida que vão crescendo os anéis vão desaparecendo.O plastrão é de mesma cor que a carapaça. Saus patas são muito fortes e possuem escamas bem grandes de cor cinzas escuro.

    Os Machos atingem maiores tamanhos que as fêmeas, podendo chegar aos 1,40 metros de comprimento curvilíneo de carapaça e as fêmeas 1,20 metros de comprimento curvilíneo de carapaça, chegando os machos a pesar cerca de 160 quilogramas e as fêmeas 80 kilogramas. As caudas dos machos são mais largas e compridas do que a das fêmeas. A reprodução tem inicio de Fevereiro a Maio e em média desovam entre 4 e 25 ovos de 80 gramas em média cada por postura, que eclodem após 100 a 210 dias de incubação, em média 130 dias, que costuma ocorrer de Outubro a Dezembro. Os filhotes nascem pesando em torno de 30 gramas e crescem rapidamente nos primeiros anos de vida, passando a maior parte do dia em busca de alimentos para sustentar esse ritmo de crescimento.

    Sua dieta é vegetariana, baseada em folhas, frutas e legumes, principalmente vegetais fibrosos. Recomenda-se folhas de amora e hibiscos, almeirão, chicória, couve, serralhas, dentes de leão, alfafa, feno, cenouras, tomates, rações de tartarugas a base de vegetais, alfafa peletizada, entre outros. Pode-se oferecer carne ou rações de animais carnívoros (cães, gato ou tartarugas aquáticas) apenas uma vez ao mês, pois na natureza costumam se alimentar de carcaças e outros restos de animais quando os encontram. As temperaturas máximas e mínimas recomendadas para mantenimento variam entre 31 e 22°C, abaixo dessa temperatura é recomendado o aquecimento dos animais.

    Apesar de seu enorme peso, esses animais ainda são capazes de nadar boas distâncias, flutuando na superfície com a cabeça e parte do casco acima da superfície, como na foto abaixo:

   No começo do ano de 2006 morreu uma Tartaruga Gigante de Aldabra do Zoológico de Calcutá chamada Addwaita (foto abaixo), essa tartaruga era considerada uma das criaturas mais velhas do planeta, pois acreditava-se que ela tinha 250 anos de idade. A tartaruga foi um presente do Lord Robert Clive comandante da Companhia das Índias Orientais, que estabeleceu uma colônia Britânica na Índia e retornou para a Inglaterra em 1767. Addwaita viveu inicialmente em um jardim (Clive's garden) e só foi doada para o zoológico em 1875. Ela morreu por causa de uma rachadura no casco que não cicatrizou, mesmo após todos os cuidados dos veterinários, devido a sua idade avançada tornou difícil sua recuperação. Porém como não existem provas de sua verdadeira idade, estão realizando exames de DNA para determinar a data correta de seu nascimento. Acredita-se que está espécie pode atingir os 200 anos de idade.


   A história evolutiva dessa espécie é ainda tema de muito estudo, pois existem diversas teorias a respeito. A teoria mais aceita é a de que algumas tartarugas migraram da África para Madagascar, provavelmente pertencentes ao gênero Astrochelys. Em Madagascar se acredita ter surgido o gênero Aldabrachelys que em seguida partiu colonizando as ilhas do Arquipélago de Seychelles (acredita-se que isso ocorreu a partir de Aldabrachelys abrupta). Outro ramo desse gênero partiu em direção as ilhas Maurícius, Reunião e Rodrigues, dando origem ao gênero Cylindraspis (acredita-se que isso ocorreu a partir de Aldabrachelys grandidieri). As Aldabrachelys se espalharam por Seychelles dando origem a 4 subespécies. As Tartarugas Gigantes de Aldabra (Aldabrachelys gigantea gigantea) ocuparam as ilhas de Aldabra, Assunção, Astove, Cosmoledo e Comores. Sendo a principal dificuldade enfrentada por elas, a baixa altitude das ilhas e sendo assim, durante os períodos interglaciais de aquecimento global, quando os níveis dos oceanos aumentam, essas ilhas submergem ficando vários metros abaixo do nível do mar. Apenas Comores possuí elevação suficiente para não ficar submersa. É estimado uma grande população de tartarugas para essas ilhas, cerca de 10 por hectare. Possuindo então nas ilhas as seguintes populações estimadas: Cosmoledo cerca de 4.570 tartarugas, Astove cerca de 6.610 tartarugas e Assunção cerca de 11.710 tartarugas.
   Esse evento ocorreu diversas vezes nos últimos anos. Há cerca de 138.000 anos atrás, as ilhas já eram ocupadas pelas Aldabrachelys gigantea e o nível do mar subiu eliminando toda a população de Aldabra e das ilhas vizinhas, apenas Comores manteve parte de sua população. Quando os níveis dos mares baixaram há aproximadamente 125.000 anos atrás, ocorreu a recolonização de todas as ilhas, facilitada pela curta distância entre as ilhas. Esse processo se repetiu novamente com a extinção ocorrendo há 100.000 anos atrás e a recolonização há 80.000 mil anos atrás. Há 50.000 anos atrás o evento de extinção voltou a ocorrer. Isso explica também como a mesma espécie de tartaruga gigante poderia ser extinta e recolonizar a mesma ilha , mesmo parecendo ser endêmica (naturalmente restrita) daquele atol e das outras ilhas menores próximas.

   As Tartarugas Gigantes de Seychelles (Aldabrachelys gigantea hololissa) ocuparam as ilhas de Seychelles, Cousine, Frégate, Mahé, Praslin, Silhouette, entre outras, entretanto foram extintas da natureza e sua população foi recuperada a partir de exemplares em coleções particulares e de zoológicos. As Tartarugas Gigantes de Arnold (Aldabrachelys gigantea arnoldi) ocuparam a ilha de Mahé, na região norte entretanto foram extintas da natureza e sua população foi recuperada a partir de exemplares em coleções particulares e de zoológicos. As Tartarugas Gigantes de Daudin (Aldabrachelys gigantea daudinii) ocuparam a ilha de Mahé, entretanto hoje se encontram extintas.

   No Brasil os únicos exemplares de Tartarugas Gigantes de Aldabra são mantidos no zoológico de São Paulo. O Zoológico de São Paulo possui 4 exemplares de Tartaruga Gigante de Aldabra (Aldabrachelys gigantea gigantea), sendo duas fêmeas adultas com aproximadamente 30 anos, que vieram de um zoológico da Austrália em 1991, e dois machos jovens que foram trazidos em 2010 do zoológico de Tulsa. Devido a diferença na maturidade sexual, ainda não ocorreram episódios de reprodução entre eles e com certeza este evento poderá demorar a ocorrer. As fêmeas apresentam entre 90 e 100 quilogramas e os machos 15 e 17 quilogramas. Em contato realizado com o local de origem, foi constatado que eles estão se desenvolvendo muito bem e a taxa de crescimento deles é excelente. O Zoológico de São Paulo acompanha o peso de todos os indivíduos a cada 6 meses e se notada alguma anomalia, são realizadas alterações na dieta dos animais. Este acompanhamento de peso periódico é justamente para poder agir rapidamente nos caso de anomalias. Explica a Bióloga Cybele Sabino Lisboa, Chefe do Setor de Répteis, Anfíbios e Invertebrados do Zoológico de São Paulo.

   A alimentação das Tartarugas Gigantes de Aldabra é diária, com jejum aos sábados e domingos e no inverno é reduzida a frequência de alimentação para 3 vezes por semana. A dieta é constituída basicamente de frutas, como mamão, banana, tomate, melancia e, principalmente, por verduras escuras. Por terem tendências herbívoras, recebem em pouca quantidade ração de cachorro como fonte de proteína animal. Eventualmente são oferecidos outros tipos de frutas ou folhas e flores de hibisco, assim como trilhas de cheiro como enriquecimento. Anomalias como piramidismo ou crescimento exagerado do bico córneo, normalmente estão associados a problemas nutricionais e sendo a dieta dessas tartarugas elaborada e balanceada adequadamente pelo zootecnista do zoológico, essas anomalias não estão presentes nessas tartarugas.

   As duas fêmeas adultas recebem condicionamento para se direcionarem à balança para que possam ser acompanhados os pesos sem necessidade de contenção. Com isso, se realizam apresentações didáticas mostrando este trabalho aos visitantes do Zôo. O condicionamento mantém os animais mais tranquilos e confiantes ao contato humano. Após ganhada essa confiança, elas gostam muito de receber carinho no pescoço e no casco.

   O recinto onde são mantidas as Tartarugas Gigantes de Aldabra é outdoor e bem amplo, possuindo mais de 200 m² de área, é constituído por um gramado, árvores para sombra, um tanque raso, uma toca com aquecimento e um lameiro. Esse lameiro foi construído por elas mesmas. Na época de chuva elas adoram passar bastante tempo no lameiro. Este recinto apresenta condições adequadas para manutenção dessa espécie e é bem parecido com outros zoológicos do exterior. O espaço e o tipo de substrato do recinto permitem manter bem o condicionamento físico delas, pois elas andam e gostam de explorar bastante o recinto. No inverno, além da dieta diferenciada, é efetuado um controle de temperatura onde os aquecedores das tocas são mantidos ligados e as próprias tartarugas acabam procurando o local aquecido para descansar. O controle da temperatura é realizado por termostato, sendo registrado as máximas e mínimas temperaturas diariamente. Em noites muito frias, as portas das tocas são fechadas para evitar queda de temperatura no interior das tocas. Como em São Paulo não ocorrem invernos muito severos, esse manejo de temperatura já é suficiente para manter o bem estar das tartarugas. As tartarugas não costumam hibernar. Em regiões mais frias, como nos zoológicos no norte do hemisfério norte, onde ocorrem nevascas, é necessário ter um recinto indoor durante o inverno.

   A sexagem de filhotes ou animais jovens, é possível através do número de escamas na cauda, mas não é um método preciso, sendo apenas uma sugestão. Uma vez que o número de escamas não aumenta conforme o crescimento e a cauda do macho é maior do que da fêmea quando adulto, sugere-se que desde filhote já é possível identificar, assim machos apresentam de 12 a 14 escamas e as fêmeas de 8 a 11. Outro método de sexagem, porém mais invasivo, é através de laparoscopia.

   
Dados do Quelônio:
Nome: Tartaruga Gigante de Aldabra, Aldabran giant tortoise
Nome Científico: Aldabrachelys gigantea gigantea
Época: Holoceno
Local onde Vive: Atol de Aldabra no Oceano Indico
Peso: Cerca de 200 quilogramas
Tamanho: 140 centímetros de comprimento
Alimentação: Onívora

Classificação Científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Testudines
Família: Testudinidae
Gênero: Aldabrachelys
Espécie: Aldabrachelys gigantea Schweigger, 1812.

Sinonimos:
- Testudo elephantina, Duméril e Bibron, 1835
- Dipsochelys elephantina
- Dipsochelys gigantea, Bour, 1982
- Geochelone gigantea, Arnold, 1979
- Dipsochelys dussumieri Gray

Referências:
- van Dijk, P.P., Iverson, J.B., Rhodin, A.G.J., Shaffer, H.B., and Bour, R. Turtle Taxonomy Working Group 2014. Turtles of the world, 7th edition: annotated checklist of taxonomy, synonymy, distribution with maps, and conservation status. In: Rhodin, A.G.J., Pritchard, P.C.H., van Dijk, P.P., Saumure, R.A., Buhlmann, K.A., Iverson, J.B., and Mittermeier, R.A. (Eds.). Conservation Biology of Freshwater Turtles and Tortoises: A Compilation Project of the IUCN/SSC Tortoise and Freshwater Turtle Specialist Group. Chelonian Research Monographs 5(7):000.329–479, doi:10.3854/crm.5.000.checklist.v7.2014.
- Bióloga Cybele Sabino Lisboa, Chefe do Setor de Répteis, Anfíbios e Invertebrados da Fundação Parque Zoológico de São Paulo, 2014.


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