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Tartaruga gigante de Reunião

    A Tartaruga gigante de Reunião foi uma tartaruga terrestre de enorme proporções que viveu até o início dos anos 1800 na parte oeste e central da Ilha de Reunião, no Oceano Indico, há 800 km a leste da Ilha de Madagascar.

    Essa enorme tartaruga podia atingir cerca de 1,20 metros de comprimento linear de carapaça e pesar cerca de 150 quilogramas. Os machos eram maiores que as fêmeas e ambos podiam viver quase 200 anos. Se alimentavam de folhas caídas das árvores (Lougnon, 1970; Merveille em La Roque, 1716), folhagens rasteiras, frutas, flores, cactos, sementes e até carniça. Tudo que fosse comestível era aproveitado por elas.

    Se acredita que essa espécie tenha se originado de outras tartarugas gigantes que viviam em Madagascar, sendo a mais provável a Dipsochelys grandieri.

    Sua extinção foi causada devido a intervenção humana na Ilha de Reunião. A ilha foi visitada inicialmente por marinheiros europeus, árabes e polinésios, que começaram a caçar as tartarugas da ilha em enormes quantidades para encher os porões dos navios com esse alimento que sobrevivia por quase 4 meses sem comer e nem beber e fornecia uma carne fresca e de qualidade durante muito tempo.

    A ilha foi foi reclamada pela primeira vez em 1644 pela Companhia Francesa das Índias Orientais, que levou à ilha colonizadores franceses e escravos africanos, com a ocupação ocorreu a introdução de animais exóticos na Ilha, em geral animais domésticos, que prejudicaram de forma intensa o estilo de vida das tartarugas, reduzindo assim a sua população.

    Em 1650, Du Quesne primeiro escreveu sobre essas tartarugas: "Existe um grande número delas, sua carne é muito delicada e a gordura ou óleo de manteiga são umas das melhores e servem para todos os tipos de molhos. As maiores tartarugas podem levar facilmente um homem em cima delas". Em 1666, Carpeau du Saussay escreveu: "Ao amanhecer, deixamos esta encantada paisagem onde encontramos apenas um inconveniente, que era a grande quantidade de tartarugas, elas nos empurravam de todos os lados e muitas vezes até debaixo de nós. Tivemos grandes problemas para se defender delas e como resultado, fomos incapazes de dormir. As tartarugas são animais muito feios, mesmo sendo muito bom para comer, o fígado é particularmente excelente. O óleo também é excelente para fritar todos os tipos de coisas. Além disso, tem propriedades maravilhosas contra a dor, nossos cirurgiões muitas vezes tiveram provas felizes disto. As tartarugas sempre mantém um pé fora do chão e três pés no chão, dando um passo por vez e dessam forma elas andam por toda a montanha"(Cheke e Hume, 2008).

    Em 1671, Melet escreveu: "As tartarugas encontradas lá são do tamanho de duas bandejas. As populações delas são tão grandes que embora a tripulação da frota General de la Haye, comeu duas ou três centenas delas todos os dias e não verificou-se qualquer efeito de diminuição no número de animais. Vê-se a cada hora do dia rebanhos de centenas descendo as montanhas. O que é melhor, neste animal é o fígado, a carne do plastrão também é muito boa, a sua gordura quando transformada em óleo, é boa e muito saudável. Por vezes encontra-se em uma única tartaruga, três ou quatro ovos, que são excelentes, uma vez bem cozidos. Este animal tem pernas muito curtas e gordas, é difícil dizer se eles caminham ou rastejam. Eles são surpreendentemente fortes, por muitas vezes em nossas caminhadas nós nos colocamos encima de suas carapaças para ver se eles poderiam nos apoiar sem dificuldades, mas era como se eles não tivessem nada sobre eles. É um alimento muito bom para ser levado nos navios" (Melet, 1672).

    Em 1671-1672, Dubois escreveu: "Toda a ilha está cheia de tartarugas, elas são uma das boas coisas desta ilha. Elas têm pescoços longos e suas cabeças são como as tartarugas da Europa, possuem uma cauda grossa e quatro pernas. Elas possuem entre 60 a 90 centímetros de comprimento, por 60 centímetros de altura. Uma dessas tartarugas podem levar um homem nas costas. A carne da tartaruga é como a carne comum e sua dobradinha tem o mesmo gosto. O fígado destes animais é muito grande e é o bocado mais delicioso que se poderia comer. Há o suficiente para quatro pessoas comerem em um desses fígados. Nos flancos dessas tartarugas exitem placas contendo gordura que se extrai ao derreter, um óleo que nunca congela. Este óleo é tão bom para todos os tipos de coisas, gera a melhor manteiga. Estas carapaças normalmente produzem 2 potes de óleo" (Dubois, 1674).

    Em 1703, Luillier escreveu: "Estas tartarugas são encontradas no topo de uma montanha que está quase completamente coberta por elas. Anteriormente, existiam ainda mais, mas como a ilha tem sido constantemente visitada, muitos têm sido abatidos. Diz-se que uma tartaruga pode viver até 300 anos, mas já que a ilha não tem sido muito habitada, isso é incerto. No entanto, vê-se tantos com 2,1 metros de circunferência (perímetro) e os habitantes dizem que durante vários anos não há nenhum sinal de que eles tem crescido. Há um tempo certo, quando eles colocam seus ovos, pois é o sol que os incuba. Uma coisa que vale a pena comentar é que eles ficam de 4 meses a cada ano, sem comer e nem beber e durante o restantes dos outros 8 meses, eles põem seus ovos e se alimentam para obter o sustento de que necessitam para os próximos 4 meses. Hoje é o início de um período de escassez e de acordo com os habitantes, há apenas tartarugas o suficiente para mais 4 anos"(Cheke e Hume, 2008; Lougnon, 1970).

    Em 1764 a ilha passou a ser governada diretamente pela França, e as revoltas de escravos que se produziram propiciaram a fuga de muitos para o interior e o estabelecimento de seus próprios povoados, reduzindo as áreas que antes eram ocupadas pelas tartarugas (Reunião possuí uma extensão de apenas 2.510 km2). Finalmente conflitos na economia da ilha (fim da escravidão dos africanos) acabaram por dizimar o restante das tartarugas, chegando assim a extinção desta espécie.

    Em 1732, um cronista francês não identificado escreveu: "A população de tartarugas está totalmente destruída", sugerindo que apenas algumas Tartarugas gigantes de Reunião sobreviveram (Day, 1981). Elas desapareceram por volta de 1730 no litoral Reunião (Cheke e Hume, 2008). Sabe-se que alguns exemplares viveram em cativeiro até o ano de 1773 (Day, 1981) e que grupos isolados no interior da Ilha de Reunião sobreviveram até a década de 1840 (Cheke e Hume, 2008), tornado-se a espécie extinta após essa data (Centro de Monitoramento da Conservação Mundial, 1996).

    Duas carapaças são mantidas no Museu Nacional d'Histoire Naturelle (MNHN), em Paris, França. Um (MNHN 7819) é o tipo de espécime denominado Testudo indica, e o outro (MNHN 9374) é o tipo de espécime denominado Testudo graii. Três ossos do úmero são mantidos no Museu de História Natural de Londres (BMNH), na Inglaterra.

Dados do quelônio:
Nome: Tartaruga gigante de Reunião ou Reunion Giant Tortoise
Nome Científico: Cylindraspis indica
Época: Holoceno
Local em que viveu: Ilha de Reunião
Peso: Cerca de 150 quilogramas
Tamanho: 1,20 metros de comprimento linear de carapaça
Alimentação: Onívora

Classificação Científica:
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Testudines
Familia: Testudinidae
Gênero: Cylindraspis
Espécie: Cylindraspis indica (Schneider, 1783)

Sinônimos:
- Testudo indica Schneider, 1783.
- Megalochelys indica Schneider, 1783.
- Geochelone indica Schneider, 1783.
- Testudo tabulata africana Schweigger, 1812.
- Chersine retusa Merrem, 1820.
- Testudo perraultii Duméril & Bibron, 1835.
- Testudo graii Duméril & Bibron, 1835.
- Chersina grayi Strauch, 1865.
- Cylindraspis borbonica Bour, 1978.

Paleoarte:
- AVPH.

Referências:
- Anders G.J. Rhodin, Scott Thomson, Georgios L. Georgalis, Hans-Volker Karl, Igor G. Danilov, Akio Takahashi, Marcelo S. de la Fuente, Jason R. Bourque, Massimo Delfino, Roger Bour, John B. Iverson, H. Bradley Shaffer, Peter Paul van Dijk, "Turtles and Tortoises of the World During the Rise and Global Spread of Humanity: First Checklist and Review of Extinct Pleistocene and Holocene Chelonians", Chelonian Research Monographs (ISSN 1088-7105) No. 5, doi:10.3854/crm.5.000e.fossil. checklist.v1. 2015.
- Austin, J.J., Arnold, E.N. (2001). Ancient mitochondrial DNA and morphology elucidate an extinct island radiation of Indian Ocean giant tortoises (Cylindraspis). Proceedings: Biological Sciences, Volume 268, Number 1485, Pages: 2515-2523.
- Barnwell, Patrick J. (1948). Visits and despatches, 1598-1948. Port Louis: Standard Printing Establishment. 306pp.
- Cheke, A., Hume, J. (2008). Lost Land of the Dodo, An Ecological History of Mauritius, Réunion & Rordrigues. T & AD Poyser, London.
- Day, D., (1981), The Doomsday Book of Animals, Ebury Press, London. ISBN 0 85223 183 0.
- Fritz Uwe; Peter Havaš (2007). "Checklist of Chelonians of the World". Vertebrate Zoology 57 (2): 277. ISSN 18640-5755. Archived from the original on 2010-12-17.
- La Roque, Jean de. (1716). Voyage de l'Arabie Heureuse. Paris: Cailleau. xvi+416pp. [includes Gollet de La Merveille's acount of Mauritius (pp.171-185) & Réunion (pp.185-211), extracted in Barnwell (1948) & Lougnon (1970).
- Lougnon, A. (1970). Sous la signe de la tortue. Voyages anciens à l'Ile Bourbon (1611-1725). 3rd.ed. Saint-Denis: [author]. 284pp. [reprinted 1992, with new illustrations, added by A. Vaxelaire, as '4th ed.'; Saint-Denis: Azalées Éditions].
- Melet, [?Jean-Jacques] de, (c1672). Relation de mon voyage aux Indes Orientales par mer...[Publ. 1999, ed.A.Sauvaget (with intro., pp.95-102). Études Ocean Indien 25/26: 103-289].
- Tatton, J. (1625). A journall of a voyage made by the Pearle to the East India wherein went as Captain Master Samuel Castleton of London and Captain George Bathurst as Lieutenant: written by John Tatton, Master. Pp.343-354 in vol.3 of S.Purchas (ed.) Hakluytus Posthumus, or Purchas his Pilgrimes, containing a history of the world in sea voyages and lande travells by Englishmen and others. [reprinted 1905-7, Glasgow: James MacLehose & Sons, 20 vols.]
- Van den Hoek Ostende, L.W. (1999). Rodriguez Giant Tortoise - A most welcome dietary supplement. 300 Pearls - Museum highlights of natural diversity. Downloaded on 12 March 2006.
- World Conservation Monitoring Centre (1996). Cylindraspis indica. In: IUCN 2008. 2008 IUCN Red List of Threatened Species. .


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